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Patrick Süskind é um escritor e roteirista de televisão alemão, hoje com 69 anos. Confesso que não conheço muito da obra dele, no entanto já publicou alguns livros, nomeadamente A História do Senhor Sommer.

 

O Perfume foi inicialmente publicado no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, um capítulo de cada vez, e teve tanto sucesso que no final desse ano, 1985, foi transformado num livro.

 

Como pano de fundo temos inicialmente a cidade de Paris do século XVIII, que nos traz a história de Jean Baptiste Grenouille, um jovem que nasceu atrás de uma banca de peixe, possuidor de duas características muito peculiares. Tem um olfato extremamente apurado que lhe permite, por exemplo, saber todos os constituíntes de um perfume ou distinguir algo ou alguém a quilómetros de distância. Orienta-se apenas pelos cheiros, sem precisar de qualquer tipo de luz. Além disso, ele próprio não possui qualquer cheiro ou odor, o que lhe permite facilmente passar despercebido entre pessoas e animais.

 

Além de Paris, visitamos ainda Auvergne, Montpellier e Grasse, tudo locais onde o nosso protagonista aprende mais qualquer coisa.

 

A leitura deste livro não foi bem aquilo que estava à espera. Li um romance, quando estava à espera de uma história com mais suspense e arrepios, com mais pormenores gráficos e descrições detalhadas. As partes onde supostamente existe mais ação foram passadas à frente, agrupadas em poucos parágrafos. É apenas a história dele, o que sente, o que quer ou o que cheira. Não quero com isto dizer que o livro seja mau, apenas que não era o que esperava.

 

O final surpreendeu-me, não estava à espera que acontecesse desta forma. Os crimes e a hipocrisia da Paris daquela altura ressaltam à vista num final que não vi de todo a chegar.

 

 

Apesar de Süskind não ser fã de adaptações, este livro foi transformado em filme por Tom Tykwer, em 2006. Com 7,5 pontos no IMDb, a adaptação está bastante fiel ao livro, apesar de existirem algumas diferenças.

 

Alan Rickman aparece num papel importante. O ator principal, a representar Grenouille, é Ben Whishaw. No geral, foi um trabalho bem feito, embora também tenha encontrado algumas partes que achei mais arrastadas.

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A Gorda | Isabela Figueiredo

por Daniela, em 30.03.18

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A Gorda é o primeiro romance de Isabel Figueiredo. Ganhou em 2017, com este livro, o Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues.

 

Nascida em Lourenço Marques, Moçambique, atual Maputo, rumou a Portugal aquando da independência do seu país, em 1975, integrando o grupo de retornados do país. É professora de Português.

 

Disse nesta entrevista que fez uma gastrectomia há alguns anos. Que vestia o 54 e só conseguia encontrar roupa que lhe servisse na C&A. Teve um namorado que acabou a relação porque o seu "aspeto não era adequado". Teve um amor fortíssimo que a rejeitou devido à aparência, deixando-a psicologicamente afetada.

 

Neste livro, a autora começa por nos dizer que "Todas as personagens, geografias e situações descritas nesta narrativa são mera ficção e pura realidade".

 

Poderemos assumir que se trata de um livro autobiográfico?

 

Deparamo-nos com três excertos antes de começar a narrativa. As vozes de Mary Shelley, Javier Cercas e Henry David Thoreau trazem-nos frases de solidão e falta de amor.

 

Conhecemos Maria Luísa. Vive na Cova da Piedade, em Almada. Filha de pais retornados. Estuda Letras e Filosofia e apaixona-se loucamente. Maria Luísa é a gorda, mas é também uma mulher feita de fibra.

 

Este livro reflete os sentimentos e frustrações de uma mulher que não quer saber o que pensam da comida, quer é comer. Reflete a sociedade onde vivemos, que coloca as pessoas por categorias e as rotula.

 

A temática é pesada e contada do ponto de vista de quem sofre com ela, tornando o livro um tanto ou quanto depressivo. A escrita é simples e sem meias medidas.

 

Gostava que a personagem principal estivesse melhor construída. Algumas falhas não me deixaram compreendê-la completamente. Queria saber mais sobre ela, entender o motivo de certas decisões.

 

Talvez seja mesmo a história de Isabela Figueiredo ou talvez não. É certamente a história de muitas mulheres. Infelizmente. Continuará a ser, enquanto existirem pessoas que não aceitam os outros como são, que os excluem e lhes põem um rótulo na testa.

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Valter Hugo Mãe é o nome artístico do escritor, editor, artista plástico, apresentador e cantor Valter Hugo Lemos. É um português nascido em Angola, na cidade de Saurimo. Já ganhou vários prémios, entre eles o de Melhor Romance do Ano, em 2012.

 

Homens Imprudentemente Poéticos é o seu último romance, publicado em 2016 pela Porto Editora. Retrata a história de uma pequena aldeia do Japão antigo e gira em torno da inimizade estabelecida entre dois vizinhos.

 

Ao escrever esta história, o autor visitou o local que mais foca ao longo das suas páginas: Aokigahara, também conhecida como a Floresta dos Suicidas. As estatísticas mostram que neste local se suicidam centenas de pessoas a cada ano, um ato que as autoridades locais tentam desencorajar mas que continua a existir, tornando a floresta no segundo local mais comum no mundo.

 

Os primeiros capítulos destinam-se à apresentação de cada uma das personagens principais. O artesão Ítaro, criador de leques, possui uma habilidade que tanto pode ser considerada conveniente como angustiante - a previsão do futuro. O oleiro Saburo, que vive com a mulher, a senhora Fuyu. A senhora Kame é a criada que já pertence à família, a figura maternal que sofre as dificuldades desta família como se fosse a sua. Matsu, a irmã de Ítaro, uma menina cega que tem uma perceção sensível do mundo e das coisas, vive no meio de sonhos e tem uma enorme gratidão pela vida. 

 

"Para Matsu as montanhas podiam fazer promontórios que se suspendessem sobre as aldeias. Braços de pedra que se levantavam entre as nuvens e sombreavam as aldeias. Explicavam-lhe que os cumes demoravam estações inteiras, podiam caminhar primaveras completas para lhes chegar ao cimo, e talvez nem chegassem, porque os homens faziam outra vida diferente da de poder voar. Mas a jovem imaginava o que ouvia segundo o seu próprio tremendismo, por isso julgava que o lugar mais alto das montanhas era uma extremidade de pedra que se alcandorava, coisa de conflituar com as nuvens e os pássaros maiores. Diferente de serem os homens voadores, ela inventava que seriam as montanhas terras capazes de pairar."

 

Ao longo do livro vamos conhecendo as razões que foram separando os dois vizinhos inimigos ao mesmo tempo que nos deparamos com temas fortes como a morte e o suicidio, o amor e a ausência dele, a perda ou o ódio.

 

É um bom livro, mas infelizmente não consegui que me enchesse as medidas. Foi o primeiro que li do autor e as opiniões que li variam bastante. Várias pessoas acham o melhor de Valter Hugo Mãe, outras acham que foi o pior. Vou ler mais livros da sua obra e formar a minha opinião. Neste livro, fico-me pelas três estrelas, espero atingir mais em leituras futuras.

 

Como curiosidade, vi numa notícia que neste livro o autor não utilizou uma única vez a palavra "não". Deixo a resposta que deu quando questionado sobre o assunto:

"A palavra Não sublinha um traço impróprio no Japão, porque difere da relação cerimoniosa que estabelecem uns com os outros. Os japoneses evitam dizer por norma Não e optam por uma expressão para essa negativa que, traduzida à letra, terá o significado de "isso é difícil". Por isso, várias vezes no romance as personagens respondem deste modo. O que é uma negativa educada, com que dão a entender ao interlocutor que o que lhe é pedido é impossível de fazer, mas sem o hostilizar."

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"No ano dos meus noventa anos quis oferecer a mim mesmo uma noite de amor louco com uma adolescente virgem"

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Memórias das Minhas Putas Tristes é o segundo livro que leio deste autor. Gabriel García Márquez foi um escritor e jornalista Columbiano que faleceu em 2014 com 87 anos, no México. Ganhou o prémio Nobel da Literatura em 1982 e é um dos escritores mais admirados e traduzidos no mundo. A sua obra mais popular é Cem Anos de Solidão.

 

Este livro traz-nos as vivências de um cronista e crítico musical que acaba de fazer noventa anos e decide contar as suas histórias num pequeno livro. Diz-nos que nunca fez sexo sem pagar e quer ter uma noite de amor com uma adolescente virgem para comemorar o seu aniversário.

 

O autor transmite-nos reflexões sobre vários temas. Prostituição e Pedofilia. Solidão. Velhice, Amor e Morte. Um dos temas mais abordados será o amor platónico.

 

Narrado na primeira pessoa, mostrou-me um estilo de escrita que não encontrei no livro que li anteriormente a este, O Amor nos Tempos de Cólera. Ficamos dentro da cabeça do protagonista, tão próximos dele que sabemos na perfeição tudo o que ele está a sentir.

 

Senti no início alguma resistência em aceitar o facto de que uma menina de apenas catorze anos podesse eventualmente querer perder a virgindade com um velho de noventa. No entanto, há medida que o tempo passa e a história avança, dei por mim a torcer para que eles ficassem juntos.

 

É uma história de amor e está muito bem escrita. Recomendo a todos este livro que tem pouco mais de cem páginas. Lê-se muito bem e entrei na história muito facilmente.

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Dezanove Minutos, de Jodi Picoult

por Daniela, em 15.12.17

"Quando você não se encaixa, se torna super-humano. Consegue sentir os olhos de todo mundo em você, grudados como velcro. Consegue ouvir um sussurro sobre você a um quilómetro de distância. Até consegue desaparecer, mesmo quando parece que ainda está no mesmo lugar. Consegue gritar e ninguém escuta nada. Você se torna o mutante que caiu no barril de ácido,o Coringa que não consegue tirar a máscara, o homem biônico que não tem membros, mas tem o coração intacto. Você é a coisa que costumava ser normal, mas isso faz tanto tempo que você não consegue lembrar nem como era."

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Jodi Picoult é uma escritora norte-americana, autora de vários livros que vendem por todo o mundo. Tem-me conquistado ao longo deste ano, através do projeto Um ano com a Jodi. As capas dos livros enganam, não são romances cor-de-rosa. São histórias que podem ser reais e que abordam temas atuais e que, na sua maioria, entram em conflito com a ética.

 

Este livro traz-nos a história de Peter Houghton, um rapaz como tantos outros, com o seu próprio jeito de ser. Um rapaz que usa óculos, sem grandes aptidões para o desporto e com uma mãe protetora. Um rapaz que é intimado, gozado e posto de parte diariamente, apenas por ser quem é.

 

"Dá para sentir as pessoas olhando fixamente; é como o calor que sobe do asfalto durante o verão, como uma cutucada nas costelas. Você não precisa ouvir um sussurro para saber que é sobre você. Eu costumava parar em frente ao espelho do banheiro para ver o que eles ficavam olhando. Queria saber o que fazia a cabeça das pessoas se virar, o que eu tinha que era tão incrivelmente diferente. A princípio, não consegui identificar. Quer dizer, era apenas eu. Mas aí, um dia, quando me olhei no espelho, eu entendi. Olhei em meus próprios olhos e me odiei, talvez tanto quanto todos eles. Foi o dia em que comecei a acreditar que talvez eles estivessem certos."

 

Peter decide vingar-se e leva para a escola armas que tem escondidas em casa há vários meses. Neste ponto, acontece algo parecido com o massacre de Columbine.

 

 

Ler este livro aperta o coração. Os abusos sofridos por Peter mexeram muito comigo. Simpatizei com ele e revi-me em algumas das situações, voltei ao tempo em que o bullying era frequente na adolescência. Nunca vi ninguém ser espancado, trancado em armários ou preso com a cabeça na sanita. Por outro lado, insultos, empurrões e cuspidelas eram frequentes.

 

Nesta história, Peter arranjou uma forma de acabar com os abusos, mas qual será o impacto na vida dos habitantes de Sterling? Várias outras questões são levantadas durante a leitura. O que implica ser diferente no mundo dos adolescentes? O que acontece se uma vítima tentar ripostar? Alguém tem o direito de julgar outra pessoa? Como lidar com um filho que já não conhecemos? Alguém que conhecemos desde sempre pode tornar-se um estranho em dezanove minutos?

 

Os capítulos são divididos em várias alturas, tendo títulos como Um mês depois ou Dezassete anos antes que se referem à ação principal do livro. Com estas viagens no tempo, Jodi Picoult consegue levar-nos de um passado feliz para um presente caótico em poucos minutos. Acompanhamos a vida de Peter e a forma como esta se foi deteriorando ao longo do tempo.

 

Apesar de o tema principal ser o Bullying, vários outros são abordados. A gravidez na adolescência. O adultério e o não assumir as consequências. A violência no namoro. 

 

As personagens são todas importantes e fulcrais para o desenvolvimento da história. Bem construídas, representam adolescentes que se encontram em qualquer escola e pais que se encontram em qualquer casa.

 

O final é muito bom e leva-nos a pensar em tudo o que se passou ao longo do livro. Revivemos aquilo que lemos nos outros capítulos e conseguimos arranjar motivos. Não foi uma completa surpresa, mas mesmo assim foi bom.

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José Saramago foi o único escritor português galardoado com o Nobel da Literatura, em 1998. Foi merecido. Escreveu vários romances, crónicas, contos e até alguns livros de poesia e contos infantis.

 

As Intermitências da Morte foi o terceiro livro que li do autor, tendo lido já há alguns anos Caim e, mais recentemente, Ensaio Sobre a Cegeira.

 

Este livro fala da morte.

 

"No dia seguinte ninguém morreu."

 

A frase inicial desta obra é um ponto de partida que nos deixa desde logo intrigados. A partir daqui Saramago relata-nos, no seu estilo carregado de ironia e sarcasmo, as reações da sociedade e de quem a governa, da igreja e do clero, dos hospitais, das agencias funerárias e até das seguradoras ao súbito desaparecimento da morte.

 

Várias reflexões podem ser feitas ao longo desta leitura, onde Saramago vai divagando acerca da importância da vida e da morte e da forma como as duas se conjugam.

 

Os moribundos, ou seja, aqueles que não podem morrer mas estão em tal estado que também não têm condições para viver, são constantemente focados. As discussões e problemas que criam para a família e as soluções que acabam por se encontrar são bastante escrutinadas, num tom de crítica social acentuado a cada palavra.

 

Em páginas mais avançadas, as personagens deixam de ser tão subjetivas e passam a ser bem definidas, apesar de nunca termos acesso a um nome próprio. O autor foca aqui a morte e o violoncelista, um personagem fulcral na história.

 

A morte acaba por ser humanizada e igualada a todos nós. Todas nós, pois aqui a morte é representada como uma personagem feminina.

 

A escrita do autor já me era familiar e não passei por aquele característico período de adaptação. A forma como ele escrevia, apenas usando como pontuação alguns pontos finais e muitas vírgulas, poderá não ser adaptada a todos mas, como ele próprio disse uma vez, é a forma como as pessoas falam, a forma como as histórias são contadas.

 

O final do livro é maravilhoso. Se tinha dúvidas entre as quatro e as cinco estrelas, este final dissipou-as de vez.

 

Leiam este livro. Leiam Saramago. Leiam os nossos.

 

Ler os Nossos: um projeto da Cláudia, do blog e canal a mulher que ama livros.

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Uma Melodia Inesperada, de Jodi Picoult

por Daniela, em 25.11.17

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Esta foi mais uma leitura para o projeto "Um ano com a Jodi".

 

Zoe Baxter tem apenas um sonho: ser mãe. Os seus problemas de infertilidade, aliados aos dos seu marido, Max Baxter, tornam este sonho difícil de realizar. Após várias tentativas falhadas de fertilização in vitro e vários abortos, Zoe sofre várias desilusões e a tragédia acaba com a pouca felicidade que tinha.

 

Vanessa é psicóloga numa escola. A certa altura, propõe a Zoe trabalhar com uma das alunas, Lucy, que se encontra com uma depressão, após várias tentativas de suicídio.

 

Os temas deste livro são fortes. A moralidade e a ética estão, como sempre, presentes. Temos por um lado a Igreja da Glória Eterna, extremamente conservadora. Por outro lado, temos temas como a homossexualidade e a depressão.

 

A terapia musical também é um tema muito interessante presente neste livro. A utilização da música em contexto clínico, que tem como objetivo ajudar pacientes com problemas de saúde mental.

 

O final é previsível. Algumas pontas foram deixadas soltas, o que me deixou aborrecida. No geral, é uma leitura agradável.

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Small Great Things, de Jodi Picoult

por Daniela, em 14.10.17

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"But in spite of the ideology that split us into factions, we'd all come together one day of the year to celebrate: April 20, the birthday of Adolf Hitler."

(Mas apesar das ideologias que nos separaram, todos nos reuníamos um dia por ano para celebrar: 20 de Abril, o aniversário de Adolf Hitler.)

 

Li este livro no mês de Setembro, para mais uma etapa do projeto Um ano com a Jodi. Esta foi também a minha primeira leitura em inglês e correu muito bem.

Este livro traz-nos a história de Ruth, mãe de Edison e viúva de um homem que morreu na guerra; uma enfermeira obstetra com mais de 20 anos de experiência a trabalhar num hospital de Connecticut. Tudo corre bem, até ao dia em que o bebé de Brit e Turk nasce e Ruth tem a tarefa de tratar dele. Depois de algum tempo em que Ruth sente o ambiente pesado do quarto enquanto trata do pequeno Davis, Turk pede-lhe que chame a sua supervisora e não a deixa tocar mais no filho.

Brit e Turk são dois supremacistas e acreditam que os brancos são superiores às pessoas de qualquer outra origem racial. Pertencem a um grupo de pessoas que se juntam para promover o poder dos brancos.

 

"We turned toward each other. I looked her in the eye, unwavering, as we recited the Fourteen Words, the mantra David Lane created when he was running the Order: We must secure the existence of our people and a future for White children."

(Virámo-nos um para o outro. Eu olhei-a nos olhos, inabalável, enquanto recitavamos as Quatorze Palavras, o mantra que David Lane criou quando liderava a Ordem: devemos garantir a existência do nosso povo e um futuro para as crianças Brancas.)

 

Ruth é afro-americana e acaba por ser impedida de tocar naquele bebé, de fazer o seu trabalho e a sua função, num ato de racismo imenso, sem que ninguém pertencente à casa onde trabalha há mais de duas décadas a defenda ou apoie.

É um livro muito bem escrito que retrata várias formas de racismo, focando também muito pormenorizadamente o racismo passivo, o aceitar, o assistir e o não fazer nada. Prende logo desde as primeiras páginas, com personagens cheias de camadas e muito bem construídas.

Cada capítulo é narrado segundo o ponto de vista de cada uma de três personagens: Ruth, a nossa protagonista afro-americana; Turk, o nosso pai supremacista branco; e Kennedy, uma advogada que segue uma vida normal, e representa grande percentagem da população branca, não se considerando racista.

O final é muito coerente, sem dramatismos, nada do que esperava vindo da Jodi. Foi melhor assim. 

Um livro muito bom que nos mostra que, mesmo sem o percebermos, todos nós temos comportamentos perconceituosos em certas alturas. Recomendo.

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BEDA #17: O Luto de Elias Gro

por Daniela, em 17.08.17

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"As pessoas são feitas de porcelana, concluiu. Lascam com facilidade, instigam em nós a urgência de não as deixar cair. Partem-se em pedaços se as largarmos. Esses pedaços são inconsoláveis. É impossível tornarmos a juntá-los e, se o tentarmos, ficaremos para sempre a observar as rachas que inadvertidamente lhes causámos, cicatrizes que não passam. Por mais que as pessoas jurem que são feitas de outro material, acredite em mim quando lhe digo que são feitas de porcelana, da mais frágil e dispendiosa."

 

Este é o oitavo romance de João Tordo e o primeiro da minha lista de leituras do autor. É também o primeiro dos três livros pertencentes à Trilogia dos Lugares sem Nome.

O nosso narrador e protagonista, do qual não conhecemos o nome, encontra-se completamente entregue ao álcool depois da perda de uma filha e de uma separação dolorosa. Refugia-se num farol de uma pequena ilha perdida no atlântico, da qual também não sabemos o nome, mas onde "viviam menos de cem pessoas e que, na época balnear, os turistas a visitavam em grupos muito pequenos"

Aqui encontra personagens inesperadas que o levam a descobrir mais sobre aquela ilha perdida. A sua busca pela solidão é interrompida por um pastor que decide trazer à tona uma casa perdida no fundo do mar, uma criança curiosa de onze anos que sabe de cor os nomes de todos os ossos do corpo humano ou um escritor dinamarquês que já faleceu mas deixou para trás os seus diários.

Solidão, luto, isolamento, dor ou perda são alguns dos temas tão bem retratados neste livro.

É um dos livros mais filosóficos que já li e penso ainda não ter crescido o suficiente para entender toda a mensagem que este tenta passar.

Talvez por ser tão poderosa, custou-me entrar e habituar-me à escrita do autor. Muitíssimo rica, digna de um bom escritor português. Ora vejam:

 

"Mais tarde, durante os meus passeios, repararia nas plantações imensas de girassóis que se abriam à luz e se fechavam quando a noite se punha; repararia nas nuvens brancas que, por vezes, voavam tão baixo que pareciam servir de chapéu àquele pedaço de terra; repararia que, do lado ocidental, numa encosta que conduzia aos casebres e esquifes dos pescadores, havia um cemitério onde os habitantes enterravam os seus; e repararia na igreja, embora essa fosse uma visão difícil, com a qual lutei durante muito tempo.

Demorámos muito a atravessar a ilha. O carro morria a cada duzentos ou trezentos metros, e Heinrich tornava a rodar a chave na ignição e o motor ressuscitava. A certa altura, apontou para o lado direito. À distância, assentes num vale, aglomeravam-se vinte e cinco ou trinta casas azuis e vermelhas, algumas brancas, de telhados em tesoura, dispostas num misterioso ordenamento que parecia não contemplar um centro. Algumas casas estavam voltadas para o mar; outras na direcção da estrada que conduzia à vila; outras ainda, de aspecto mais antigo, encarrilavam a norte, apontadas ao afunilamento da terra, onde o verde ia cedendo lugar à areia, e esta, por sua vez, conduzia a uma fileira de rochas que eram engolidas pelas águas."

 

Quero um dia reler, com mais maturidade, e perceber tudo o que este livro pode transmitir.

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"Nasci porque um cientista conseguiu ligar os óvulos da minha mãe e os espermatozóides do meu pai para criar uma combinação específica de material genético precioso."

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Este foi mais um livro para o projeto Um Ano com a Jodi.

Brian e Sara têm uma família feliz e equilibrada com os seus dois filhos: Jesse e Kate. Aos três anos de idade, Kate é diagnosticada com LPA - Leucemia Promielocítica Aguda - uma variação rara da Leucemia com muitas complicações e probabilidade de sobrevivência muito baixa.

Para salvar a sua filha Kate, os seus pais decidem criar um bebé geneticamente compatível com ela para poderem utilizar as células do cordão umbilical e assim ajudar a Kate, o que dá origem ao nascimento da Anna.

O que começou por ser apenas uma doação de células do cordão umbilical sem qualquer interferência com a qualidade de vida da Anna, depressa se tornou em transfusões, transplantes e cirurgias frequentes. Aos treze anos de idade, Anna já tem um historial médico bem recheado sem nunca ter precisado ela própria de cuidados médicos.

Quando Kate é diagnosticada desta vez com insuficiencia renal, os pais dizem a Anna que esta terá de doar um rim à irmã. E é então que Anna decide dizer não, e instaura um processo legal contra os pais pelo direito do seu próprio corpo.

É um livro emocionante que nos mostra a história de uma família que vive diariamente com um problema sem solução. São-nos ainda revelados vários detalhes sobre esta doença e sobre as suas complicações, nota-se que foi feito um estudo prévio à escrita do livro.

Levanta várias questões complexas e aborda os já habituais temas controversos da ética e da moral que várias vezes se encontram nos livros desta autora - pelo menos naqueles que já li. Se por um lado a vida de Kate está em risco e só a irmã a pode salvar, por outro lado temos a Anna a enfrentar uma luta que não é sua, arriscando também ela a sua própria vida.

Os capítulos são divididos por pontos de vista dos personagem. Cada capítulo vai sendo contado da perspetiva de uma pessoa apenas, e essa pessoa vai variando. A escrita é simples e direta.

O final é surpreendente e imprevisível; trágico, tal como aconteceu no primeiro livro que li dela.

Recomendo.

 

 

Vi o filme recentemente. Achei que foi uma boa adaptação, embora várias partes do livro tenham sido alteradas. Senti falta do Jesse rebelde e perturbado do livro. A dor daquela família também considero melhor representada no livro. O final também foi alterado, é mais esperado e não é tão trágico.

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