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Publicado em 2013, e traduzido em Portugal para "A Contadora de Histórias", este livro traz até nós um tema muito triste: o Holocausto. Retrata algumas das muitas coisas que se passaram num campo de concentração específico e, talvez, o mais falado: Auschwitz.
É narrado na primeira pessoa pela voz de quatro personagens e engloba dois tempos distintos: o passado e o presente.
Sage é uma mulher de 25 anos, padeira de profissão e adora o que faz. Tem uma auto-estima muito baixa devido a um acidente do qual fez parte e que acabou por lhe deixar uma cicatriz na cara. É a voz do presente, do que se passa atualmente.
Leo fala também no presente. Trabalha no FBI e faz parte das suas funções perseguir e condenar ex-soldados nazis.
Josef é um nonagenário e ex-soldado das SS, que conta do seu ponto de vista como era a vida dos soldados, falando de assuntos como as seleções que eram feitas antes de lhes serem atribuídos os cargos.
Minka é a voz do passado, a voz dos horrores vividos antes e durante Auschwitz, uma mulher judia e uma sobrevivente do Holocausto. É também a avó de Sage.
"On that day I had also noticed a new sign on the restaurant. Psy i Żydzi nie pozwolone. No dogs or Jews allowed."
A pesquisa para este livro foi muito bem feita, os pormenores históricos são contados de forma muito real. Adorei os capítulos da personagem Minka, as partes passadas em Auschwitz, as descrições e a história que se vai desenrolando. É de ficar com o coração apertado.
Faz-nos refletir. É essencialmente um livro sobre perdão e sobre a nossa capacidade de perdoar os outros ou de nos perdoarmos a nós próprios. Por muito que leiamos sobre o tema, ou que assistamos a documentários, há sempre espaço para o choque e a tristeza que nos invadem ao depararmo-nos mais uma vez com este tema. Tal crueldade humana vai sempre surpreender e ser difícil, se não impossível, de compreender.
As histórias são várias, umas dentro das outras. A história passada no presente, algumas partes da vida da Sage ou do Leo não gostei tanto. Nem consegui simpatizar com o Leo, apesar de ter gostado da Sage. Há uma outra história da qual também gostei, que é aquela que a Minka inventa e escreve e sonha partilhar.
O twist final que a autora deciciu dar também não me agradou particularmente e acabou por ser um pouco previsível.
Talvez para primeira leitura da Jodi seja um livro de cinco estrelas, mas após várias leituras chegamos à conclusão que a fórmula não varia muito de livro para livro. Teria gostado mais se a autora se focasse mais nas memórias da Minka e do Josef.
Deixo um excerto do qual gostei e que partilho agora convosco:
"In Heaven and Hell, people sit at banquet tables filled with amazing food, but no one could bend their elbows. In Hell, everyone starves because they can't feed themselves. In Heaven, everyone's stuffed, because they don't have to bend their elbows to feed each other."
Eça de Queirós é um dos mais importantes e conhecidos nomes da literatura portuguesa. A sua obra mais conhecida e aclamada é Os Maias, publicada em 1888.
Do escritor, apenas tinha lido O Crime do Padre Amaro e gostei da crítica que encontrei. A Ilustre Casa de Ramires é então o segundo livro que leio do autor e não gostei tanto. Publicada em 1900. Foi escrito de forma paralela, ou seja, existem várias histórias a decorrer ao mesmo tempo.
Temos por um lado a história de Gonçalo Mendes Ramires, um fidalgo pertencente a uma das linhagens mais antigas, uma família nobre e cheia de tradições, que ambiciona entrar na política e fazer carreira, passada no século XIX. À medida que vai conseguindo atingir este objetivo, vê-se envolto numa série de dúvidas acerca da sua honra e honestidade, que poderão pôr em causa tudo aquilo que a sua família sempre defendeu.
Por outro lado, temos uma história escrita pelo nosso protagonista Gonçalinho, acerca dos seus antepassados, passada no século XIII. O protagonista aqui é Tructesindo Ramires, um homem que procura vingança pela morte do seu filho morto em uma emboscada por um suposto amigo da família.
As personagens são personificações reais e adequadas à altura. Atuais, ainda nos dias de hoje.
O Gonçalinho, o fidalgo empobrecido que quer ser superior mas por outro lado mostra-se fraco e de caráter muito débil.
A Gracinha, pequenina e frágil, pele clara e cabelos negros compridos. Frágil e passiva, deixa-se seduzir facilmente.
André Cavaleiro, o Dom Juan da zona. Bem educado, de cabelos ondulados e bigodes fartos. Seduz Gracinha, já depois de casada.
As irmãs Lousadas, a personificação de duas coscuvilheiras da aldeia, como todos certamente conhecem.
"Secas, escuras e gariulas como cigarras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas as esquadrinhadoras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as maledicências, as tecedeiras de todas as intrigas."
O início do livro é bastante aborrecido, fala das conquistas dos antigos Ramires e é difícil de passar. Depois a história começa a fluir melhor. Álem destas primeiras partes, a história de Tructesindo também é difícil de passar e, no meu entender, não acrecenta grande coisa ao livro. Sempre que Gonçalo começa a narrar a história dos seus antepassados, é necessário estar muito atento à leitura para perceber a diferença, caso contrário acabamos por nos baralhar e ter de voltar atrás, como me aconteceu várias vezes.
Não seria a minha primeira recomendação para primeira leitura de Eça, gostei mais de O Crime do Padre Amaro. Mas para quem quer completar a obra de Eça, avancem sem medos. Já sabem, as primeiras páginas custam a passar, por isso nada de desistir.
Deixo algumas fotografias do encontro do Clube dos Clássicos Vivos que aconteceu em Leiria no dia 13 de Janeiro, para discutir esta obra:
"Quando você não se encaixa, se torna super-humano. Consegue sentir os olhos de todo mundo em você, grudados como velcro. Consegue ouvir um sussurro sobre você a um quilómetro de distância. Até consegue desaparecer, mesmo quando parece que ainda está no mesmo lugar. Consegue gritar e ninguém escuta nada. Você se torna o mutante que caiu no barril de ácido,o Coringa que não consegue tirar a máscara, o homem biônico que não tem membros, mas tem o coração intacto. Você é a coisa que costumava ser normal, mas isso faz tanto tempo que você não consegue lembrar nem como era."
Jodi Picoult é uma escritora norte-americana, autora de vários livros que vendem por todo o mundo. Tem-me conquistado ao longo deste ano, através do projeto Um ano com a Jodi. As capas dos livros enganam, não são romances cor-de-rosa. São histórias que podem ser reais e que abordam temas atuais e que, na sua maioria, entram em conflito com a ética.
Este livro traz-nos a história de Peter Houghton, um rapaz como tantos outros, com o seu próprio jeito de ser. Um rapaz que usa óculos, sem grandes aptidões para o desporto e com uma mãe protetora. Um rapaz que é intimado, gozado e posto de parte diariamente, apenas por ser quem é.
"Dá para sentir as pessoas olhando fixamente; é como o calor que sobe do asfalto durante o verão, como uma cutucada nas costelas. Você não precisa ouvir um sussurro para saber que é sobre você. Eu costumava parar em frente ao espelho do banheiro para ver o que eles ficavam olhando. Queria saber o que fazia a cabeça das pessoas se virar, o que eu tinha que era tão incrivelmente diferente. A princípio, não consegui identificar. Quer dizer, era apenas eu. Mas aí, um dia, quando me olhei no espelho, eu entendi. Olhei em meus próprios olhos e me odiei, talvez tanto quanto todos eles. Foi o dia em que comecei a acreditar que talvez eles estivessem certos."
Peter decide vingar-se e leva para a escola armas que tem escondidas em casa há vários meses. Neste ponto, acontece algo parecido com o massacre de Columbine.
Ler este livro aperta o coração. Os abusos sofridos por Peter mexeram muito comigo. Simpatizei com ele e revi-me em algumas das situações, voltei ao tempo em que o bullying era frequente na adolescência. Nunca vi ninguém ser espancado, trancado em armários ou preso com a cabeça na sanita. Por outro lado, insultos, empurrões e cuspidelas eram frequentes.
Nesta história, Peter arranjou uma forma de acabar com os abusos, mas qual será o impacto na vida dos habitantes de Sterling? Várias outras questões são levantadas durante a leitura. O que implica ser diferente no mundo dos adolescentes? O que acontece se uma vítima tentar ripostar? Alguém tem o direito de julgar outra pessoa? Como lidar com um filho que já não conhecemos? Alguém que conhecemos desde sempre pode tornar-se um estranho em dezanove minutos?
Os capítulos são divididos em várias alturas, tendo títulos como Um mês depois ou Dezassete anos antes que se referem à ação principal do livro. Com estas viagens no tempo, Jodi Picoult consegue levar-nos de um passado feliz para um presente caótico em poucos minutos. Acompanhamos a vida de Peter e a forma como esta se foi deteriorando ao longo do tempo.
Apesar de o tema principal ser o Bullying, vários outros são abordados. A gravidez na adolescência. O adultério e o não assumir as consequências. A violência no namoro.
As personagens são todas importantes e fulcrais para o desenvolvimento da história. Bem construídas, representam adolescentes que se encontram em qualquer escola e pais que se encontram em qualquer casa.
O final é muito bom e leva-nos a pensar em tudo o que se passou ao longo do livro. Revivemos aquilo que lemos nos outros capítulos e conseguimos arranjar motivos. Não foi uma completa surpresa, mas mesmo assim foi bom.
Abel Botelho não é um escritor muito conhecido. Português, viveu entre finais do séc. XIX e início do séc. XX. Escreveu vários livros de poesia, peças de teatro e romances, onde se insere O Barão de Lavos.
Ouvi falar deste livro recentemente, neste vídeo do Hugo, no canal O Aprendiz de Leitor.
Em conjunto com outros quatro, O Barão de Lavos pertence a uma série escrita por Abel Botelho e denominada Patologia Social, a parte da sua obra que representa o Neo-realismo, ou seja, a observação fiel da realidade e caracterização de fenómenos sociais que eram comuns na época. Neste caso, o pano de fundo será Lisboa, a capital de Portugal e cidade de maior prestígio. Os temas predominantes neste conjunto de livros são a homossexualidade, a prostituição, luta da classe proletária, o adultério e a política.
Centra-se na história de Sebastião de Castro e Noronha, o nosso protagonista e Barão de Lavos. Excêntrico, nobre e descendente de duas das famílias mais influentes do país, tem a obsessão de encontrar o corpo perfeito e de o desenhar, procurando em zonas apinhadas de gente, como é o caso do circo.
"Dezenas de rapazes, de mulheres, de rapariguitas mesmo, tinham vindo àquela casa poisar perante a sua obstinação doentia. Perscrutinava ele na rua uma mulher fácil ou um garoto complacente que lhe parecesse deviam ter aquele desvio anatómico? ... Não os largava enquanto não conseguisse, a impulso de astúcia e de dinheiro, conduzi-los à Rua da Rosa e analisar-lhes a nudez."
Assim, encontra Eugénio, um efebo de 15 anos e desprezado pelos pais que dorme em qualquer esquina, com quem inicia uma relação e ao qual arranja uma das suas casas para viver. À medida que o tempo passa, o Barão vai ficando cada vez mais à mercê de Eugénio, que o explora financeiramente e o vai deixando mais pobre a cada dia.
Publicado em 1891, este é o primeiro livro da série que referi acima e retrata a homossexualidade e apresenta cenas de pedofilia, embora eu pense que na altura o objetivo do autor era apenas apresentar o primeiro tema, uma vez que os dois eram dissociáveis no séc. XIX. A homossexualidade não é apresentada como sendo natural, mas como uma doença, causada pela situação familiar ou pelas vivências sociais, e que não pode ter outro desfecho além da degeneração e destruição de quem a pratica.
Imagino que a publicação desta obra tenha causado grande escândalo no seio da sociedade conservadora da altura, tendo em conta os temas tabu que aborda.
Não é um livro recomendado para aqueles que fogem de descrições longas e detalhadas. Muitas aparecem neste volume. No entanto, a história vale a pena, o tom de crítica social encontra-se em cada capítulo. Além disso, é um livro que se encontra facilmente em formato digital, pelo que vale sempre a pena tentar conhecê-lo.
Ler os Nossos: um projeto da Cláudia, do blog e canal a mulher que ama livros.
"But in spite of the ideology that split us into factions, we'd all come together one day of the year to celebrate: April 20, the birthday of Adolf Hitler."
(Mas apesar das ideologias que nos separaram, todos nos reuníamos um dia por ano para celebrar: 20 de Abril, o aniversário de Adolf Hitler.)
Li este livro no mês de Setembro, para mais uma etapa do projeto Um ano com a Jodi. Esta foi também a minha primeira leitura em inglês e correu muito bem.
Este livro traz-nos a história de Ruth, mãe de Edison e viúva de um homem que morreu na guerra; uma enfermeira obstetra com mais de 20 anos de experiência a trabalhar num hospital de Connecticut. Tudo corre bem, até ao dia em que o bebé de Brit e Turk nasce e Ruth tem a tarefa de tratar dele. Depois de algum tempo em que Ruth sente o ambiente pesado do quarto enquanto trata do pequeno Davis, Turk pede-lhe que chame a sua supervisora e não a deixa tocar mais no filho.
Brit e Turk são dois supremacistas e acreditam que os brancos são superiores às pessoas de qualquer outra origem racial. Pertencem a um grupo de pessoas que se juntam para promover o poder dos brancos.
"We turned toward each other. I looked her in the eye, unwavering, as we recited the Fourteen Words, the mantra David Lane created when he was running the Order: We must secure the existence of our people and a future for White children."
(Virámo-nos um para o outro. Eu olhei-a nos olhos, inabalável, enquanto recitavamos as Quatorze Palavras, o mantra que David Lane criou quando liderava a Ordem: devemos garantir a existência do nosso povo e um futuro para as crianças Brancas.)
Ruth é afro-americana e acaba por ser impedida de tocar naquele bebé, de fazer o seu trabalho e a sua função, num ato de racismo imenso, sem que ninguém pertencente à casa onde trabalha há mais de duas décadas a defenda ou apoie.
É um livro muito bem escrito que retrata várias formas de racismo, focando também muito pormenorizadamente o racismo passivo, o aceitar, o assistir e o não fazer nada. Prende logo desde as primeiras páginas, com personagens cheias de camadas e muito bem construídas.
Cada capítulo é narrado segundo o ponto de vista de cada uma de três personagens: Ruth, a nossa protagonista afro-americana; Turk, o nosso pai supremacista branco; e Kennedy, uma advogada que segue uma vida normal, e representa grande percentagem da população branca, não se considerando racista.
O final é muito coerente, sem dramatismos, nada do que esperava vindo da Jodi. Foi melhor assim.
Um livro muito bom que nos mostra que, mesmo sem o percebermos, todos nós temos comportamentos perconceituosos em certas alturas. Recomendo.
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