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Esta foi a última leitura do projeto Um Ano com a Jodi.
Nina Frost trabalha como delegada adjunta do Ministério Público e tenta a todo o custo que seja feita a justiça que os seus clientes merecem. Mas as lacunas do sistema são demasiadas e é extremamente difícil manter os criminosos atrás das grades.
Nathaniel é um menino de cinco anos que perde a fala de repente. Os seus pais, ao tentarem que volte a falar, aprendem juntamente com ele a linguagem gestual, mas não estão preparados para aquilo que descobrem. Destroçados, vão continuando uma vida que mudou completamente, à medida que o ambiente familiar tão normal que tinham começa a desmoronar.
Picoult aborda neste livro mais um tema forte e duro, a pedofilia. Temos vários pontos de vista, mas ninguém consegue ficar indiferente ao de uma criança inocente que se vê numa situação terrível, envolta em medo e dor e sem meios para se defender.
É difícil de digerir, acredito que ainda mais para quem tem filhos, mas é ao mesmo tempo uma leitura bastante fluida.
No final as coincidências são muitas, as horas de tribunal também e encontramos tudo aquilo a que a Jodi já nos habituou. Mas posso dizer que no geral gostei, a história cativou-me e o final surpreendeu-me.
Realmente, os bons pais fazem tudo aquilo que está ao seu alcance para proteger os seus filhos, mesmo que isso implique quebrar algumas regras.
Esta foi mais uma leitura para o projeto "Um ano com a Jodi".
Zoe Baxter tem apenas um sonho: ser mãe. Os seus problemas de infertilidade, aliados aos dos seu marido, Max Baxter, tornam este sonho difícil de realizar. Após várias tentativas falhadas de fertilização in vitro e vários abortos, Zoe sofre várias desilusões e a tragédia acaba com a pouca felicidade que tinha.
Vanessa é psicóloga numa escola. A certa altura, propõe a Zoe trabalhar com uma das alunas, Lucy, que se encontra com uma depressão, após várias tentativas de suicídio.
Os temas deste livro são fortes. A moralidade e a ética estão, como sempre, presentes. Temos por um lado a Igreja da Glória Eterna, extremamente conservadora. Por outro lado, temos temas como a homossexualidade e a depressão.
A terapia musical também é um tema muito interessante presente neste livro. A utilização da música em contexto clínico, que tem como objetivo ajudar pacientes com problemas de saúde mental.
O final é previsível. Algumas pontas foram deixadas soltas, o que me deixou aborrecida. No geral, é uma leitura agradável.
Stendhal é um pseudónimo de Henri-Marie Beyle, que escreveu no século XIX sob a capa de vários outros e que publicou apenas um livro com o seu nome verdadeiro. Louis Alexandre Bombet ou Anastasius Serpière são alguns dos pseudónimos que utilizou antes de Stendhal.
Este livro passa-se em França, no período da Restauração antes da Revolução de 1830, e traz-nos a história de Julien Sorel. O nosso protagonista é um jovem inteligente e ambicioso, nascido em Verrières no ceio de uma família pobre. Filho de um carpinteiro e desprezado por estes e pelos seus irmãos devido à sua tendência para os livros, a paixão por Napoleão Bonaparte, e falta de jeito nos trabalhos árduos.
"Nada podia ser mais antipático ao velho Sorel; talvez tivesse perdoado a Julien a sua compleição franzina, pouco adequada aos trabalhos que exigem força e tão diferente da corpulência dos filhos mais velhos; mas aquela mania de ler era-lhe odiosa, tanto mais que ele próprio não sabia ler."
Apesar destes fatores, ele tem no entanto pretensões de subir na vida. Ele sonha integrar-se na alta sociedade e tenta-o de duas formas; através do serviço a casas de famílias importantes e através da sua entrada no seminário. Apesar de deixar o seu rasto por onde passa e conquistar jovens em qualquer lado, ele não se contenta com as raparigas que servem a mesma família que ele. Pensa mais alto e quer a atenção da senhora para quem trabalha. Será que consegue? Será que sobe realmente na vida? E a que custo? São questões que vamos vendo respondidas ao longo da narrativa.
O ritmo de leitura começa por ser bastante rápido e fluido, queremos saber sempre o que Julien fará de seguida. No entanto, começou a tornar-se aborrecido antes de chegar a meio e comecei a deixá-lo de lado. As descrições são imensas e a ação cai drasticamente. Mais perto do fim voltou ao ritmo inicial.
Senti falta de algumas notas de tradução na minha edição, sei por certo que várias referências me passaram ao lado.
O nome que o autor escolheu para o livro não foi completamente compreendido. A maioria pensa que o negro é a cor da batina e representa o clero. Quanto ao vermelho, muitos pensam ser a cor dos antigos uniformes militares franceses; outros pensam ser a cor da paixão que move o nosso protagonista.
Julien Sorel é sem dúvida uma grande personagem e o melhor do livro. É extremamente bem construído e cheio de camadas que descobrimos a cada nova peripécia. Talento e ambição natos, recorrendo a tanta hipocrisia sobre uns e enganando tantos outros.
A escrita do autor é primorosa. Neste livro, é um narrador presente que quase se torna numa personagem, comentado os acontecimentos à medida que estes se vão desenrolando. Conseguiu contruir um personagem extremamente complexo, mas dos melhores que podemos encontrar, com grande mestria.
O final é fabuloso. Vale a pena passar por todas as partes aborrecidas e encontrar aquele final. Talvez não seja o que esperámos durante todo o livro, mas ao chegar lá percebemos que não poderia ser de outra forma.
"Nasci porque um cientista conseguiu ligar os óvulos da minha mãe e os espermatozóides do meu pai para criar uma combinação específica de material genético precioso."
Este foi mais um livro para o projeto Um Ano com a Jodi.
Brian e Sara têm uma família feliz e equilibrada com os seus dois filhos: Jesse e Kate. Aos três anos de idade, Kate é diagnosticada com LPA - Leucemia Promielocítica Aguda - uma variação rara da Leucemia com muitas complicações e probabilidade de sobrevivência muito baixa.
Para salvar a sua filha Kate, os seus pais decidem criar um bebé geneticamente compatível com ela para poderem utilizar as células do cordão umbilical e assim ajudar a Kate, o que dá origem ao nascimento da Anna.
O que começou por ser apenas uma doação de células do cordão umbilical sem qualquer interferência com a qualidade de vida da Anna, depressa se tornou em transfusões, transplantes e cirurgias frequentes. Aos treze anos de idade, Anna já tem um historial médico bem recheado sem nunca ter precisado ela própria de cuidados médicos.
Quando Kate é diagnosticada desta vez com insuficiencia renal, os pais dizem a Anna que esta terá de doar um rim à irmã. E é então que Anna decide dizer não, e instaura um processo legal contra os pais pelo direito do seu próprio corpo.
É um livro emocionante que nos mostra a história de uma família que vive diariamente com um problema sem solução. São-nos ainda revelados vários detalhes sobre esta doença e sobre as suas complicações, nota-se que foi feito um estudo prévio à escrita do livro.
Levanta várias questões complexas e aborda os já habituais temas controversos da ética e da moral que várias vezes se encontram nos livros desta autora - pelo menos naqueles que já li. Se por um lado a vida de Kate está em risco e só a irmã a pode salvar, por outro lado temos a Anna a enfrentar uma luta que não é sua, arriscando também ela a sua própria vida.
Os capítulos são divididos por pontos de vista dos personagem. Cada capítulo vai sendo contado da perspetiva de uma pessoa apenas, e essa pessoa vai variando. A escrita é simples e direta.
O final é surpreendente e imprevisível; trágico, tal como aconteceu no primeiro livro que li dela.
Recomendo.
Vi o filme recentemente. Achei que foi uma boa adaptação, embora várias partes do livro tenham sido alteradas. Senti falta do Jesse rebelde e perturbado do livro. A dor daquela família também considero melhor representada no livro. O final também foi alterado, é mais esperado e não é tão trágico.
"Se o amor da sua vida lhe pedisse ajuda para morrer, que faria? Quando é que o amor ultrapassa os limites da obrigação moral? E o que é que significa amar verdadeiramente alguém?"
ATENÇÃO: Alguns spoilers.
Este foi o segundo livro que li da autora e o primeiro livro do projeto Um ano com a Jodi, organizado pela Dora, pela Elisa e pela Isaura. Como já é normal na autora, ela traz-nos mais um tema controverso.
Jamie MacDonald sufoca a sua mulher, Maggie, com uma almofada e apresenta-se na polícia. Maggie sofria de uma doença prolongada e não tinha qualquer tipo de esperança em recuperar.
A premissa do livro é muito interessante, e faz-nos pensar num tema que divide muitas opiniões: a Eutanásia. A Eutanásia é o ato de tirar a vida a alguém que sofre de uma doença incurável, e este livro leva-nos a pensar se esta será uma morte cruel ou um ato de compaixão, e questiona aquilo que é moralmente correto.
Por estas razões o livro torna-se interessante nos primeiros capítulos, quando queremos ver este tema mais explorado. No entanto, à medida que a leitura vai avançando, esse interesse vai-se perdendo cada vez mais. A premissa do livro, que sugere uma exploração entre a crueldade e a compaixão de se praticar a eutanásia, vai-se perdendo à medida que as páginas vão passando.
O tema promissor que a capa do livro nos promete perde-se pelo caminho e passa a ser um livro de reflexão sobre o amor, as formas de amar e o "70-30", que representam "alguém que ama e alguém que se deixa amar".
Allie e Cam são um casal que também tem uma presença muito acentuada no livro. Namorados desde o liceu, ou lá perto, casados há anos, felizes? talvez. Depois aparece Mia, a assistente de Allie que vai acabar por encadear Cam.
Talvez o objetivo da autora fosse comparar o casamento de Jamie e Maggie que tinha tudo para ser perfeito e acabou depressa demais, com o casamento cheio de problemas de Cam e Allie, que apesar de tudo continua. Dois temas com tanto para escrever não poderiam ser encaixados no mesmo livro. Eutanásia e Adultério. Penso que daria um livro muito melhor se a autora se focasse apenas no primeiro.
Não simpatizei com nenhuma das personagens, um Cam antiquado onde tudo tem de ser como ele quer, uma Mia que não sabe bem o que quer, uma Allie completamente cega que não vê o que está mesmo à frente dos olhos dela. Quase no final, a Allie parece que se revolta, que pensa nela e por ela, no que ela quer e não no que ele quer, mas passado uns dias tudo volta atrás. Foi uma desilusão no meio daquela última réstia de esperança.
A escrita da autora é muito fluída e fácil de ler, no entanto existem algumas partes que a tornam aborrecida, como é exemplo a quantidade de vezes que são referidas as tradições da Escócia, que acabam por não interessar nada para a história, ou a excessiva referência às flores e àquilo que representa cada uma.
O final é onde a ação se torna mais dinâmica, no entanto acho que acaba por ser demasiado rápido.
Não me marcou. Não recomendo.
O Crime do Padre Amaro é um livro do escritor Eça de Queirós que dispensa apresentações.
Amaro, um padre sem vocação é obrigado a seguir esta via por imposição familiar, até que encontra Amélia, uma rapariga inocente de 24 anos.
Tem como pano de fundo a cidade de Leiria, abrangendo principalmente o ambiente cristão, e é uma crítica feroz aos vícios da época, à vida abastada da burguesia e aos abusos do clero.
Narrado na terceira pessoa, é-nos possível saber o que cada personagem está a sentir, a pensar ou a fazer. As beatas estão altamente presentes e criticadas no livro, sendo algumas tratadas severamente com nomes grosseiros. É difícil conseguir simpatizar com alguma das personagens, todas elas nos são apresentadas de uma forma muito sarcástica e criticada.
A corrupção pelos associados à igreja, a quebra do celibato dos padres, os jogos de aparências e o moralismo fingido são temas muito presentes e constantemente trazidos ao de cima. A diferença entre o que pregam e o que fazem é enorme. O poder conseguido através do uso da religião. A hipócrisia e a verdade fingida.
No entanto, é no último capítulo do livro que a crítica se torna mais severa, e onde um clima de miséria e prostituição é caracterizado com uma enorme paz numa conversa que envolve dois personagens pertencentes ao clero e um conde, pertencente à burguesia.
Título: Frágil
Autor: Jodi Picoult
Editora: Civilização Editora
1ª Edição: 2009
Nº de Páginas: 498
Sinopse: Willow, a linda, muito desejada e adorada filha de Charlotte O’Keefe, nasceu com osteogénese imperfeita - uma forma grave de fragilidade óssea. Se escorregar e cair pode partir as duas pernas, e passar seis meses enfiada num colete de gesso. Depois de vários anos a tratar de Willow, a família enfrenta graves problemas financeiros. É então que é sugerida a Charlotte uma solução. Ela pode processar a obstetra por negligência - por não ter diagnosticado a doença de Willow numa fase inicial da gravidez, quando ainda fosse possível abortar. A indemnização poderia assegurar o futuro de Willow. Mas isso implica que Charlotte tem de processar a sua melhor amiga. E declarar perante o tribunal que preferia que Willow não tivesse nascido...
Opinião: O primeiro livro que li desta autora. Foca um tema sensível, uma doença rara e que pouca gente conhece: Osteogénese Imperfeita, ou a Doença dos Ossos de Vidro. É um livro onde muito facilmente os sentimentos se misturam, são tantos que não os compreendemos bem.
Não conhecia em pormenor esta doença, não fazia ideia das implicações que tem nem das complicações que provoca. Este livro dá-nos uma visão pormenorizada do que significa Osteogénese Imperfeita e do que é conviver com esta doença todos os dias.
Os capítulos são divididos pelas personagens, e escritos na segunda pessoa, já que se dirigem sempre à pequena Willow, como que a transmitir-lhe os seus pensamentos.
O livro começa calmamente, sem dar muito de si, e só depois de vários capítulos é que nos agarra até ao final. Achei a Amelia, irmã de Willow, uma personagem muito bem construída. Com os seus próprios problemas para lidar, com os seus próprios pensamentos e as suas próprias reflexões. Sobre a mãe, Charlotte, não sei o que dizer. Houve espaço para gostar dela e houve espaço para achar que era a pior pessoa do mundo. No geral, foi a personagem com quem menos simpatizei.
Houve uma história paralela envolvendo Marin, a advogada de Charlotte, que não achei que fosse necessária para a história principal, mas que também não correu mal.
O final é surpreendente, chocante e atinge-nos de uma maneira que não é possível explicar. Too many feelings!
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