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"Quando você não se encaixa, se torna super-humano. Consegue sentir os olhos de todo mundo em você, grudados como velcro. Consegue ouvir um sussurro sobre você a um quilómetro de distância. Até consegue desaparecer, mesmo quando parece que ainda está no mesmo lugar. Consegue gritar e ninguém escuta nada. Você se torna o mutante que caiu no barril de ácido,o Coringa que não consegue tirar a máscara, o homem biônico que não tem membros, mas tem o coração intacto. Você é a coisa que costumava ser normal, mas isso faz tanto tempo que você não consegue lembrar nem como era."
Jodi Picoult é uma escritora norte-americana, autora de vários livros que vendem por todo o mundo. Tem-me conquistado ao longo deste ano, através do projeto Um ano com a Jodi. As capas dos livros enganam, não são romances cor-de-rosa. São histórias que podem ser reais e que abordam temas atuais e que, na sua maioria, entram em conflito com a ética.
Este livro traz-nos a história de Peter Houghton, um rapaz como tantos outros, com o seu próprio jeito de ser. Um rapaz que usa óculos, sem grandes aptidões para o desporto e com uma mãe protetora. Um rapaz que é intimado, gozado e posto de parte diariamente, apenas por ser quem é.
"Dá para sentir as pessoas olhando fixamente; é como o calor que sobe do asfalto durante o verão, como uma cutucada nas costelas. Você não precisa ouvir um sussurro para saber que é sobre você. Eu costumava parar em frente ao espelho do banheiro para ver o que eles ficavam olhando. Queria saber o que fazia a cabeça das pessoas se virar, o que eu tinha que era tão incrivelmente diferente. A princípio, não consegui identificar. Quer dizer, era apenas eu. Mas aí, um dia, quando me olhei no espelho, eu entendi. Olhei em meus próprios olhos e me odiei, talvez tanto quanto todos eles. Foi o dia em que comecei a acreditar que talvez eles estivessem certos."
Peter decide vingar-se e leva para a escola armas que tem escondidas em casa há vários meses. Neste ponto, acontece algo parecido com o massacre de Columbine.
Ler este livro aperta o coração. Os abusos sofridos por Peter mexeram muito comigo. Simpatizei com ele e revi-me em algumas das situações, voltei ao tempo em que o bullying era frequente na adolescência. Nunca vi ninguém ser espancado, trancado em armários ou preso com a cabeça na sanita. Por outro lado, insultos, empurrões e cuspidelas eram frequentes.
Nesta história, Peter arranjou uma forma de acabar com os abusos, mas qual será o impacto na vida dos habitantes de Sterling? Várias outras questões são levantadas durante a leitura. O que implica ser diferente no mundo dos adolescentes? O que acontece se uma vítima tentar ripostar? Alguém tem o direito de julgar outra pessoa? Como lidar com um filho que já não conhecemos? Alguém que conhecemos desde sempre pode tornar-se um estranho em dezanove minutos?
Os capítulos são divididos em várias alturas, tendo títulos como Um mês depois ou Dezassete anos antes que se referem à ação principal do livro. Com estas viagens no tempo, Jodi Picoult consegue levar-nos de um passado feliz para um presente caótico em poucos minutos. Acompanhamos a vida de Peter e a forma como esta se foi deteriorando ao longo do tempo.
Apesar de o tema principal ser o Bullying, vários outros são abordados. A gravidez na adolescência. O adultério e o não assumir as consequências. A violência no namoro.
As personagens são todas importantes e fulcrais para o desenvolvimento da história. Bem construídas, representam adolescentes que se encontram em qualquer escola e pais que se encontram em qualquer casa.
O final é muito bom e leva-nos a pensar em tudo o que se passou ao longo do livro. Revivemos aquilo que lemos nos outros capítulos e conseguimos arranjar motivos. Não foi uma completa surpresa, mas mesmo assim foi bom.
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