Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]




O Barão de Lavos, de Abel Botelho

por Daniela, em 03.12.17

DSCF4051.JPG

 

 

Abel Botelho não é um escritor muito conhecido. Português, viveu entre finais do séc. XIX e início do séc. XX. Escreveu vários livros de poesia, peças de teatro e romances, onde se insere O Barão de Lavos.

 

Ouvi falar deste livro recentemente, neste vídeo do Hugo, no canal O Aprendiz de Leitor.

 

Em conjunto com outros quatro, O Barão de Lavos pertence a uma série escrita por Abel Botelho e denominada Patologia Social, a parte da sua obra que representa o Neo-realismo, ou seja, a observação fiel da realidade e caracterização de fenómenos sociais que eram comuns na época. Neste caso, o pano de fundo será Lisboa, a capital de Portugal e cidade de maior prestígio. Os temas predominantes neste conjunto de livros são a homossexualidade, a prostituição, luta da classe proletária, o adultério e a política.

 

Centra-se na história de Sebastião de Castro e Noronha, o nosso protagonista e Barão de Lavos. Excêntrico, nobre e descendente de duas das famílias mais influentes do país, tem a obsessão de encontrar o corpo perfeito e de o desenhar, procurando em zonas apinhadas de gente, como é o caso do circo.

 

"Dezenas de rapazes, de mulheres, de rapariguitas mesmo, tinham vindo àquela casa poisar perante a sua obstinação doentia. Perscrutinava ele na rua uma mulher fácil ou um garoto complacente que lhe parecesse deviam ter aquele desvio anatómico? ... Não os largava enquanto não conseguisse, a impulso de astúcia e de dinheiro, conduzi-los à Rua da Rosa e analisar-lhes a nudez."

 

Assim, encontra Eugénio, um efebo de 15 anos e desprezado pelos pais que dorme em qualquer esquina, com quem inicia uma relação e ao qual arranja uma das suas casas para viver. À medida que o tempo passa, o Barão vai ficando cada vez mais à mercê de Eugénio, que o explora financeiramente e o vai deixando mais pobre a cada dia.

 

Publicado em 1891, este é o primeiro livro da série que referi acima e retrata a homossexualidade e apresenta cenas de pedofilia, embora eu pense que na altura o objetivo do autor era apenas apresentar o primeiro tema, uma vez que os dois eram dissociáveis no séc. XIX. A homossexualidade não é apresentada como sendo natural, mas como uma doença, causada pela situação familiar ou pelas vivências sociais, e que não pode ter outro desfecho além da degeneração e destruição de quem a pratica.

 

Imagino que a publicação desta obra tenha causado grande escândalo no seio da sociedade conservadora da altura, tendo em conta os temas tabu que aborda.

 

Não é um livro recomendado para aqueles que fogem de descrições longas e detalhadas. Muitas aparecem neste volume. No entanto, a história vale a pena, o tom de crítica social encontra-se em cada capítulo. Além disso, é um livro que se encontra facilmente em formato digital, pelo que vale sempre a pena tentar conhecê-lo.

 

Ler os Nossos: um projeto da Cláudia, do blog e canal a mulher que ama livros.

Autoria e outros dados (tags, etc)


1 comentário

Imagem de perfil

De A rapariga do autocarro a 11.12.2017 às 15:19

Este mês tenho estado fraquinha em leituras. Não conhecia este livro, mas realmente se ainda hoje há quem confunda homossexualidade com pedofilia, imagino naqueles tempos!!

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.




Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.